18 abril, 2011

Carlos Barros: a Bahia na Bélgica


Marlon Marcos jornalista e antropólogo
 
Uma voz orquestrada, a favor do exercício musical, pode fazer desenhos que revelam inteira uma cultura, apresentando, explicando, reformulando, interagindo ou, simplesmente, fazendo com que o outro frua e se divirta com a evolução cênica e sonora de um show em movimento. Foi assim. Carlos Barros e a sua impecável Banda do Céu ocuparam elegantes salas em Bruxelas e Liège, na Bélgica, para contar a belgas, e a outras nacionalidades em trânsito naquele país, o que a Bahia tem em poesia e inventividade.

Num total de seis apresentações, sendo cinco em Bruxelas, e uma em Liège, a Música Popular Brasileira entre os dias 17 e 27 de março, singrou a cultura belga dialogando com esta, em inglês, francês, português e iorubá, através do canto afinado doce representacional do baiano Carlos Barros. Remetendo-se aos nossos monstros sagrados, Gilberto Gil ( este foi louvado em todas as apresentações), Dorival Caymmi, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Daniela Mercury e Gal Costa ( sempre homenageada com a canção Trilhos urbanos, de Caetano), somando-se aos ricos e inventivos arranjos da Banda do Céu, os nossos meninos perfilaram a beleza e os acertos que nós baianos temos ( e oferecemos) quando a questão é arte e entretenimento.
 
Carlos Barros é um jovem cantor, produtor e intelectual que pesquisa a nossa música; lançou há dois anos o belo CD Cantiga Vem do Céu, com um repertório arejado, inédito e reverente ao melhor da música popular. É bem acompanhado pela Banda do Céu, formada pelo baixo de Alex Medrado, da guitarra e violões de Pedro Ivo Araújo, dos teclados de João Carlos Campos e da iluminada bateria de Marcus Lima.
 
Cantor e banda viajaram a convite da cantora e produtora portuguesa Cristina Rosal ( radicada há 20 anos na Bélgica) através de sua empresa de produções artísticas D’arte, para as apresentações que aqueceram o frio de início de Primavera na Europa, e puseram platéias inteiras para dançar de Aquela do Brasil a Sonho meu, festejando a vida naquele jeito que sempre incrementamos quando chega fevereiro.
 
De fato, às vezes, só de longe para se ter uma real dimensão da grandeza do que a Bahia e o Brasil produziram, e graças aos orixás, ainda produzem em termos de música. De lá, entre belgas franceses portugueses alemães brasileiros, sentindo frio e saudade do sol, a voz expressiva de Carlos Barros nos colocava no centro profundo do nosso orgulho de ser baiano e de pertencer a esta musicalidade.
 
As duas apresentações no The Music Village expressaram e confirmaram o talento e a habilidade dos músicos em evidência. A sala é um sítio, como dizem os portugueses, dedicado a receber artistas do jazz mundial e de apresentar aos belgas amantes da boa música, o que de melhor circula pelo mundo. A platéia ficou embevecida com a execução de Trilhos urbanos, O mundo é um moinho, Modinha para Gabriela, London London, Touche pas à mon pote, Jack soul, Língua, entre as consagradas; vibrando também com as inéditas Chumbo, um sambinha delicioso do baiano Harlei Eduardo e Brisa Morena, de Marcus Lima, entre outras.
 
As outras salas: o Bouche- à- Oreille, o Restaurant Cravo e Canela, em Bruxelas; em Liège, a belíssima La Mi Lune. Em todas, a receptividade foi tradutora do talento dos artistas e do desenho cultural da Bahia e do Brasil feito de música, poesia e dramaticidade. O Cravo e Canela é um restaurante de brasileiras que vivem em Bruxelas; foi lá a última apresentação do show internacional Cantiga Vem do Céu, e a festa foi arrebatadora como só são as festas promovidas pelos brasileiros. A Bahia em especial.
 
Intimamente, minha cabeça ficou a imaginar meu sonho feliz de cidade: a voz de Caetano Veloso no meu ouvido; o show Solar, de Cláudia Cunha; a imensidão da voz de Stella Maris; a maestria de Tiganá Santana; a lindeza de Juliana Ribeiro... Ah! A poesia da Bahia.
 
E a possibilidade de ver Maria Bethânia recitando os nomes que dão sentido a minha vida e que podem educar este país. A poesia sendo discutida, agora, por conta do dinheiro quando não há preço; que belo e honesto projeto “O mundo precisa de poesia”.

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